Uma semana sem estímulos digitais



Dá para não consultar, a todo momento, as redes sociais ou a caixa de e-mail?

Vamos ver........

Sete bilhões de pessoas, 6 bilhões de celulares. Um deles me acompanha para onde vou. Atrasada para uma reunião, tenho 12 abas no navegador esperando para serem analisadas. Ouço música, carrego um vídeo no YouTube (7 minutos se tornaram uma eternidade!), penso no show a que vou assistir mais tarde, abro a agenda para verificar os compromissos de amanhã. Estou atrasada. Vou aproveitar o ônibus para ler outro e-mail no celular. Mesmo a viagem sendo curtinha, vou levar o mp3 e o livro. Nunca se sabe, posso ficar entediada.

Os dias passam e vou levando assim. Só estou absolutamente presente - ou tento estar - quando medito ou pratico ioga. É hora de rever esse ritmo e buscar maior consciência de como estou lidando com tanta informação. Por isso, começo amanhã uma aventura por mares ainda desconhecidos: por uma semana, me proponho a reduzir ao máximo os estímulos da vida moderna. Estou nervosa para ver as consequências dessa resolução. Hoje, nos poucos momentos em que parei para somente respirar, percebi que estou com medos: de não conseguir entregar minhas tarefas no prazo, de me sentir sozinha, de perceber que estar totalmente off-line é delicioso. Como mudar hábitos é uma das tarefas mais difíceis, estabeleci algumas regrinhas para facilitar (ou dificultar) o processo.

Só poderei checar e-mails duas vezes ao dia e exclusivamente no computador. Estarei presente nas redes sociais por, no máximo, 15 minutos, uma vez ao dia. No navegador, somente uma aba aberta. O telefone funcionará somente para efetuar e receber chamadas e mensagens, que poderão ser checadas e respondidas em um único momento no dia. Falar ao telefone é falar ao telefone. Atender chamadas durante conversas e refeições está proibido. As refeições, aliás, serão feitas em silêncio, quem comer comigo que entenda. Ler jornal durante o café da manhã, nem pensar! Não ligarei a televisão por uma semana e farei uma coisa por vez.

Que comece a aventura!

Nos primeiros dias, sinto-me livre. Sem possibilidade de saber o que está acontecendo no mundo virtual, posso estar 100% presente. Sem checar e-mails e mídias sociais, tenho mais tempo e posso ir a pé para os compromissos. Caminhando pela praia (eu me dei ao luxo de alterar o trajeto), deparei com uma placa - "Diminua a velocidade" - estranhamente posicionada na calçada. Como não estava distraída ouvindo música, pude analisar a metáfora ali apresentada: diminuir a velocidade é o exercício da semana. A proposta não é parar por completo, mas desacelerar. Por isso, os 8 quilômetros até o compromisso foram um passeio durante o qual observei minha pisada, minha postura - a omoplata esquerda não está encaixada corretamente -, minha respiração e meus pensamentos. Eu estava absolutamente presente, observando o que acontecia no momento em que a situação se apresentava. O senhor sentado no quiosque tomando uma água de coco e sorrindo pro bebê no carrinho a seu lado, a jovem correndo com as bochechas vermelhas e o cabelo metade sua­do, metade limpo. Sem ansiedade por não poder checar se o e-mail com a confirmação de pagamento havia chegado, eu estava caminhando na praia, numa linda quarta-feira ensolarada.

É um presente estar presente. Dou mais atenção às informações. No computador, com uma aba aberta por vez, menos distração internética e, consequentemente, mais tempo para me aprofundar em leituras, tenho concentração para ler o que realmente interessa, como foi o caso de um link sobre "Dieta de informação" que havia em minha caixa de e-mails. O termo é o nome do livro de Clay Johnson, um dos responsáveis pela campanha presidencial de Barack Obama em 2008, que revolucionou o uso da web para esse propósito. Em seu livro, Johnson fala dos inúmeros itens de conteúdo que consumimos durante o dia (televisão, revistas, internet, outdoors) e defende que não dá para se desesperar e dizer: "Oh não! É muita informação, eu não dou conta!" O autor fala que a responsabilidade de filtro é nossa, da mesma maneira que não podemos culpar a batata frita pela obesidade. A falta de educação alimentar é nossa, assim como a falta de educação informativa. Eu me reconheci em sua análise, com minhas 12 abas abertas, sem saber o que fazer com tanta notícia (ou pseudonotícia).

Com menos estímulo externo, os padrões de comportamento dão mais sinais de vida. A mente grita com tanto tempo e espaço livres. Tenho lidado com questões que estavam escondidas debaixo do tapete. Sinto-me limpando questões que há muito me incomodavam tão silenciosamente que eu nem as percebia, mas estavam lá, me corroendo. Com menos estímulo, elas têm espaço para dar o ar de sua graça.

Tenho percebido também que me sinto dona do meu tempo, funcionando sob um calendário que é meu. Já que não posso ver as novas mensagens e informações assim que chegam, checo quando sinto que devo. Nas horas em que estou mais produtiva, produzo. E produzo bem. Com menos estímulos, as sinapses são mais certeiras, por não perderem tempo com informações irrelevantes. Produzo mais em menos tempo e com isso posso ir à praia, visito amigos, como não fazia há muito.

Apesar das delícias que a semana está me trazendo, existem desconfortos, também. Tédio em ônibus parados no trânsito, a perda de um trabalho por não ter visto um e-mail a tempo, carência sem a possibilidade de recorrer a uma rede social para tirar a atenção dos incômodos que começam a emergir. E, sem a opção de pender para o lado do excesso de estímulos, me apoio no excesso de comida e as calças ficam mais apertadas - comer em silêncio pode ser uma experiência muito prazerosa.

Dessa semana, levo comigo algumas práticas, como a presença, a atenção e o cuidado com o excesso de estímulo e informação. Mas fico bem feliz que a semana acabou. Olho para meu smartphone e penso: "Fiquei com saudade".

Carolina Bergier


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